Artigo de Rita Birne, nefrologista, Campanha “A Vitória Contra a Doença Renal Começa na Prevenção”
Neste Dia Mundial da Diabetes, valerá a pena olhar com atenção para os números. Os últimos dados revelam que 14% dos adultos têm diabetes, o que corresponde, ao dia de hoje, a mais de 1 milhão de portugueses com esta doença. Destes, mais de 40% desconhecem que a têm.
A progressão desta doença civilizacional está longe de estar controlada. São conhecidas as repercussões devastadoras das complicações da diabetes na sociedade – em anos de vida ativa perdida, na sobrecarga do já assoberbado SNS, em custos acrescidos, na qualidade de vida individual e coletiva.
De entre as complicações, a renal é das que mais contribui para a carga que esta doença acarreta, mas ainda assim é das menos notadas. Não por ser pouco frequente: cerca de 40% das pessoas com diabetes tem doença renal. É por ser, até fases muito tardias, pouco ou nada sintomática.
Se não se testa a presença de lesão renal, quando surgem as suas manifestações já se perdeu demasiado tempo. É com pesar que, muito mais vezes do que seria admissível, vemos os doentes chegarem à reta final da doença renal sem ter havido oportunidade de intervir na sua silenciosa progressão.
Há intervenções que alteram a história natural da doença renal diabética – farmacológicas e não farmacológicas. Mas para identificar é necessário conhecer. E para conhecer é preciso procurar. Com isto não se quer dizer que os médicos não utilizam as ferramentas de deteção apropriadas – em Portugal os profissionais de saúde estão ao mais alto nível em todas as comparações internacionais. O que acontece é que uma fatia importante da população não tem acesso aos cuidados de saúde. Ou porque aguardam há tempos infindos por um médico de família, ou porque simplesmente desistem ou nem começam a procurar.
A diabetes e as suas complicações, incluindo as renais, podem ser evitadas ou retardadas.
Tudo isto é ainda mais paradoxal num país com tradição de dieta mediterrânica, e no qual são prestados dos melhores cuidados de ponta no que diz respeito a tecnologias médicas, incluindo a diálise e a transplantação.
Damos cartas no topo da pirâmide dos cuidados médicos, mas quando descemos para a base, onde as intervenções são mais eficazes por abrangerem uma fase mais precoce da doença e onde os procedimentos são menos dispendiosos, reina a desestruturação e o desinvestimento. Tendo em mente o meio da pirâmide para baixo, há que apostar: 1) na prevenção da progressão da doença renal; 2) na prevenção da evolução da diabetes para as suas complicações, incluindo a renal; 3) na prevenção do surgimento da diabetes. Há muito por fazer em todas as camadas desta pirâmide, que constitui um contrapeso à descolagem de uma sociedade saudável e próspera. Cada um de nós tem um papel ativo na mudança, a começar pelas entidades governamentais, com políticas que promovam um ambiente e comportamentos saudáveis.
Num passado recente, foram implementadas algumas medidas relevantes como imposto sobre as bebidas açucaradas, redução do sal nos alimentos, imposição de alternativas alimentícias saudáveis nas escolas e outros edifícios públicos, mais zonas pedonais e ciclovias, redução do IVA dos ginásios.
Infelizmente, nos últimos anos temos assistido a um retrocesso: voltaram a florescer os alimentos ricos em açúcar e as batatas fritas nas instituições públicas, a par dos preços galopantes dos alimentos da “nossa” dieta mediterrânica (vejam-se o azeite, a fruta, os legumes, o peixe), que empurram os indivíduos para um ambiente cada vez mais propício a diabetes.
Se queremos realmente fazer diferente na saúde em Portugal, com propósito e determinação, há que encarar de frente os verdadeiros problemas e reforçar as várias camadas da pirâmide, a começar pelo princípio: a prevenção!
Ao cuidar da sua diabetes está a cuidar dos seus rins! A vitória contra a doença renal começa na prevenção! Saiba mais em www.rim.pt