ANADIAL alerta para “tempos muito difíceis” para as clínicas de diálise

Em declarações à Lusa, a Associação Nacional de Centros de Diálise (ANADIAL) lamentou os “tempos muito difíceis” vividos pelas clínicas de tratamento da doença renal crónica, alertando para a necessidade de revisão do valor pago pelo Estado a estas unidades.

“As empresas estão a prestar este tratamento desde 2008, há 17 anos, com o preço sem qualquer atualização, tendo inclusive sofrido uma redução de 18%. Estamos, portanto, a atravessar momentos muito difíceis em que a continuidade da prestação destes cuidados está posta em causa”, assinalou Paulo Dinis, presidente da ANADIAL.

Segundo a associação, o preço compreensivo, valor que o Estado paga às clínicas privadas por tratamentos de diálise, consultas de acompanhamento e exames, sofreu, entre 2008 e 2022, um decréscimo de 77,85 euros (menos 14,2%). Este valor, acumulado com a integração, em 2011, dos acessos vasculares e das transfusões,  perfaz um decréscimo de 18,2%.

“Este é um valor fixo, por doente e por tratamento, e que inclui todos os custos associados. Se o doente tiver de realizar, quatro diálises semanais em vez das habituais três, o Estado não paga mais por isso, e as empresas asseguram o tratamento na mesma. O único ponto de desacordo neste momento é o facto de o preço estar estagnado há 17 anos”, sublinhou Paulo Dinis.

No âmbito da apresentação dos resultados do estudo “A doença renal e a diálise em Portugal – a visão dos Portugueses”, promovido pela ANADIAL em parceria com a Spirituc, o presidente recordou que, em 2023, a associação propôs um modelo idêntico ao da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE).

O estudo da associação, que representa cerca de 120 clínicas no país, concluiu também que 82% dos inquiridos reconhece a elevada taxa de mortalidade associada à doença renal crónica quando esta não é devidamente tratada. No entanto, os resultados apontam para que, em Portugal, essa taxa se mantenha em níveis mínimos.

“Sendo uma doença grave, pesada e com contextos clínicos complexos, apresenta inevitavelmente alguma mortalidade. Ainda assim, nos últimos anos tem-se mantido em torno dos 13%, com uma tendência de melhoria”, afirmou Paulo Dinis, embora admita que “em 2040 será provavelmente a quinta causa de morte”.

O presidente lembrou ainda que a doença renal crónica “é uma doença silenciosa” e que os “grandes motivos da sua evolução” são a hipertensão e a diabetes.

Segundo o presidente da ANADIAL, o número de doentes em tratamento continua a crescer entre 1% e 1,5% ao ano, representando atualmente cerca de 13 mil utentes em tratamento diário — o equivalente a aproximadamente 0,1% da população.